terça-feira, 3 de março de 2009

Segurança no Trabalho: uma questão cultural?

Já visitei muitas fábricas por todo o país devido ao tipo de trabalho que exerço e observei posturas diferentes em relação à segurança do trabalho ou do trabalhador. Em algumas empresas a preocupação é obsessiva e cuidadosa, os terceirizados são treinados para seguirem as normas e procedimentos assim como todos os funcionários, existem equipamentos de proteção em abundância e os índices de acidente são bem reduzidos.

Em outras a preocupação não é tão evidente e, em algumas delas, simplesmente não existe. Infelizmente já presenciei acidentes graves e vários "quase acidentes", que por um triz ou por sorte do envolvido não chegaram a acontecer.

Mesmo quando as regras existem e os equipamentos estão disponíveis o fator humano prevalece sobre as condições. Por razões culturais muitos funcionários não gostam dos procedimentos de segurança.

Eles dizem que é frescura, que o equipamento atrapalha a execução das tarefas, faz muito calor ou que eles são bastante experientes e não precisam de tanta proteção. Macho que é macho não come mel, mastiga a abelha. E acabam abusando e sofrendo as consequências desse abuso.

Eu afirmo que o problema é cultural porque a raiz está na própria educação do nosso trabalhador, de origem humilde e pouca instrução e que está acostumado a cortar a grama descalço, de bermudas e sem camisa, muitas vezes em meio a um churrasco e com um copo de cerveja na outra mão. E com pressa para terminar logo para poder jogar uma peladinha com a grama mais baixa.

Vale o mesmo para pequenos consertos domésticos, arrumar o carro na calçada, subir no telhado para pegar uma pipa. São tantas as situações que daria para escrever um livro sobre o assunto.

Se você observar a foto acima verá o meu amigo Anders cortando a grama da sua casa, na Suécia. Nota-se uma grande diferença no comportamento em relação à segurança. E esse mesmo comportamento, essa mesma postura com a segurança em casa ele carrega para o trabalho. Deveríamos nos espelhar nesse modelo.


Todos dizem que "oriental" é sinônimo de paciência. Um bonsai tem que ser trabalhado lentamente durante anos para se obter uma peça moldada segundo os desejos do seu criador. Da mesma forma, se educarmos nossas crianças e jovens para que considerem a segurança um fator importante em suas vidas no futuro teremos adultos mais responsáveis, menos acidentes nas estradas e nas fábricas e menos acidentes domésticos.

Vale a pena divulgar essa idéia. Segurança no trabalho não é frescura, é essencial para preservar a vida humana.

4 comentários:

Juliana Carla disse...

Muitas empresas acham que seu maior bem são os clientes externos. Pura miopia!!! O maior bem que a empresa tem são os ativos intelectuais. Eles são o "elemento gatilho" para movimentarem os recursos da organização. Então, devem ser bem cuidados.

Pontes disse...

Juliana,

Você leu o artigo do Stephen Kanitz sobre o assunto? O título é "Você está demitido". Fala justamente que o maior ativo das empresas são seus funcionários e que eles devem ser preservados acima de qualquer crise ou turbulência. Essa concepção de que ninguém é insubstítuivel é muito relativa. Como muitas idéias e conceitos ela acabou sendo levado para o lado do interesse de quem contrata. Somente quem já passou pelo ato de demitir ou ser demitido pode descrever a situação com sentimentos. Quando as corporações passam a enxergar seu quadro de funcionários apenas como % de custo e se esquecem que são vidas e famílias inteiras representadas o ser humano passa a ser igualado a um equipamento ou máquina.
Recordo-me de um trecho do filme "O Quinto Elemento" onde um megaempresário do futuro manda demitir 500 mil funcionários. Ele pensa um pouco e ordena: 1 milhão. Como se fossem parte do estoque apenas.

Juliana Carla disse...

Ótimas dicas Pontes!!! Muito obrigada.

Pontes disse...

Juliana, as notícias de hoje refletem bem como as empresas enxergam seus funcionários. Enquanto algumas estão demitindo às centenas ou milhares outras, como a AIG, paga bônus milionários aos seus diretores. A maioria prefere demitir 100 funcionários que ganham R$ 500,00 do que um único executivo que ganha R$ 25.000,00 mais bônus mais benefícios mais carro com motorista. Mesmo que ele seja um dos responsáveis internamente pelos resultados negativos da empresa. E ainda recebe bônus!!