quarta-feira, 11 de março de 2009

Emprego X Trabalho

O mundo está em crise e milhares de empregos desapareceram da noite para o dia. As manchetes de todos os jornais do planeta discutem as causas e as soluções para a recessão global que nos assola.

Eu gostaria de falar sobre a crise também, mas acredito que vou chover no molhado. Muito já se falou, culpados foram apontados, soluções foram discutidas e apresentadas e temos que aguardar até que se mostrem efetivas ou não. Não aguardar sentados é óbvio. Cada um tem que dar o melhor de si para suplantarmos este momento.

Eu quero discutir outro assunto. Ouço as pessoas reclamando que está difícil conseguir emprego já há bastante tempo. Quando você se aprofunda um pouco na conversa muitas vezes ouve desabafos tais como: "Já cansei de trabalhar e ganhar pouco. Quero um emprego onde eu ganhe mais e trabalhe menos. Acho que vou estudar para um concurso público em um órgão onde não tenha que me esforçar muito, deixar o tempo passar e esperar minha aposentaria". Essa conversa não é nova e não tem nada a ver com a crise atual.

Para alguém que começou como office-boy aos 11 anos como eu ou como engraxate aos 9 anos como meu pai é difícil ouvir uma balela dessas. Parece que as palavras "Trabalho" e "Emprego" já não significam mais a mesma coisa. Pior ainda, significam atividades excludentes.

Posso citar alguns exemplos que presenciei:

I - Nas proximidades do meu apartamento funciona um restaurante a quilo pequeno e simples. O proprietário acorda todo dia às 4h da manhã para começar seu expediente às 5h, preparar tudo junto com sua equipe e estar pronto para os clientes em torno de 11h. Como ele só abre para o almoço fecha as portas às 15h, mas só consegue ir para casa mesmo depois das 18h, pois tem que limpar o restaurante, fechar o caixa, pagar as contas do dia e ainda passar no mercado para reabastecer. Todo dia ele recebe a visita de mais de 20 pedintes querendo comida de graça. Semana passada ele ofereceu emprego para vários deles e obteve como resposta olhares furiosos, xingamentos e recusas. E continua até hoje sem o procurado ajudante.

II - O quintal do meu vizinho está com a grama na altura dos joelhos e ele não encontra um único interessado em cortar a grama em troca de um pagamento justo. Ele mesmo não a corta porquê já está com 70 anos e tem artrite. Mas já cortou muitas vezes quando ainda tinha saúde.

III - Os programas assistenciais do governo como o bolsa-família, vale-gás, vale-x-tudo e vale-voto contribuem para essa situação quando são aplicados indiscriminadamente. Recentemente li um artigo comentando o caso de um restaurante no Nordeste freqüentado pelo colunista há décadas. Ele sempre foi servido pelo mesmo garçom, porém, na última vez em que lá esteve, notou a falta do funcionário e perguntou ao proprietário o que havia acontecido. A resposta foi: "Meu ex-funcionário conseguiu um auxílio do governo para si e para o filho e resolveu parar de trabalhar. E eu não estou conseguindo achar ninguém para substituí-lo no momento". Alguns vão dizer que é um caso isolado e que a grande maioria precisa do auxílio. Não sei dizer que está com a razão. Acredito apenas que o governo deve ficar atento a esses sintomas e melhorar o controle e concessão desses programas. Tem muita gente se aproveitando dessa situação, mesmo pessoas empregadas ou donos de pequenos negócios (informais é lógico).

O que eu tenho observado é que a Lei de Gerson continua viva e em vigência plena. A idéia é tirar vantagem sempre que possível, colocar o burro na sombra e contar com a ajuda dos outros, seja governo ou uma bondosa alma caridosa.

Se a prerrogativa do texto está correta então digo que precisamos de mais trabalhadores e menos empregados se quisermos evoluir como povo e como nação.

Um comentário:

Mitikami disse...

Boa Pontes...
Como concordo!!! E como!!!

A filosofia japonesa de ensinar a pescar e nao dar o peixe eh totalmente contra a questoes de assistencialismos disponiveis hoje!!!

Que pena... Mas eh a atual realidade!!!

Bom... Tentando mudar o mundo do jeito que julgamos certo e dentro das nossas possibilidades.

Abracos e continue com as suas citacoes!

Carlos Mitikami
Jul/01

PS: Desculpe pelas faltas de acentuacoes no meu "post"!!!