quinta-feira, 5 de março de 2009

Era uma vez... Um conto de fadas moderno!

Era uma vez, em um país muito distante, um povo humilde e trabalhador que adorava conversar sobre política, futebol e religião.

Dos três assunos política era sempre o preferido, mais comentado do que qualquer outro. Como conseqüência, as polêmicas eram inevitáveis. Apesar de ser um país pequeno, não mais que algumas centenas de vidas, todo mundo gostava de dar sua opinião de vez em quando.

Um pequeno grupo começou a considerar que as discussões estavam pobres demais, pois discutia-se o óbvio. Eles eram intelectualmente superiores (ao menos assim se achavam) e decidiram que era hora de separar o joio do trigo. Criaram então um pequeno grupo, seleto e distinto, que discutia suas diferenças em particular. Surgiu então o Conselho dos Sábios. Mas, mesmo sendo pequeno, ainda existiam diferenças consideráveis, pontos de vista discordantes e visões opostas dentro do grupo.

Foi então que dentro do pequeno grupo se levantou um grupelho que tinha idéias mais próximas e não tão discordantes. Resolveram então que deviam se separar e criar um novo grupo de discussões, mais seleto ainda, com um nível altíssimo de discussões e assuntos a resolver. Afinal, eles eram ainda mais superiores intelectualmente e podiam resolver os problemas do pequeno país em que viviam. Nascia então o Conselho dos Mais Sábios.

Novamente surgiram diferenças, as diferenças levaram a discordâncias, as
discordâncias a polêmicas, a brigas e a desentendimentos.

Um último grupo então surgiu, do qual faziam parte apenas duas pessoas com visão tão avançada que ninguém mais podia participar das suas discussões. E as conversas eram longas, frutíferas, inteligentes, profundas. Enfim, soberbas.

Era o Supremo Conselho dos Mais Sábios. E esse grupo continuou por meses discutindo e dando soluções para todos os problemas do pequeno país.

E quando finalmente a discussão estava chegando ao supremo, ao maravilhos, ao divino aconteceu um pequeno acidente.

A terra tremeu e o espelho se quebrou. E o último membro do grupo finalmente se deu conta de que estava só há muito tempo, conversando com seu próprio reflexo. Era a sua imagem no espelho que lhe ouvia o tempo todo e concordava com tudo o que ele dizia.

E ele não viveu feliz para sempre, porque já não havia mais ninguém para ouvir suas brilhantes idéias. Ele foi definhando e suas idéias morreram com ele, sem gerar os frutos que ele queria.

FIM

2 comentários:

Rodrigo Moura disse...

"Só sei que nada sei" disse o filósofo Sócrates quando o consideraram o homem mais sábio do mundo. Ao proferir este pensamento, creio que ele queria externar a idéia de que a inteligência existe somente onde não há vaidade. O homem vaidoso por seu intelecto acaba isolado por si próprio ou tornando-se objeto do ostracismo. Não só na política isso acontece (assunto do marcador), mas em todas as nossas relações, pois quando a vaidade torna-se superior ao intelecto, o homem se torna egoísta, escravo de seu ego. É por isso que digo que sem humildade a inteligência não tem valor, é mera fantasia da mente que a criou. Infelizmente poucas pessoas têm uma atitude de estranhamento quando um desses exemplos são notícia; preferem comprar uma imagem pronta ao invés de questionar o marketing pessoal de cada um. Muito bom o conto de fadas moderno, mas está mais para Edgar Allan Poe do que para Irmãos Grimm... hahaha. Abraços!!!

Pontes disse...

Caro Rodrigo! Como sempre seus comentários enriquecem e elevam o nivel deste blog. A referência a Sócrates com certeza exprime o espírito crítico do meu texto em relação aos sábios de hoje em dia, mais preocupados com os holofotes e a fama do que com seu próprio conhecimento.
Abraços,