terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Dr., tem jeito de arrumar um atestado?"

Sou um engenheiro e trabalho com máquinas. Máquinas não tem sentimentos (ainda - pelo menos as que eu conheci) mas também ficam doentes, tem dores súbitas ou problemas de "saúde".

Quando eu ou um dos meus amigos engenheiros é chamado para diagnosticar o que está havendo com uma máquina "doente" geralmente a situação é de extrema pressão. O nível de stress é alto, os ânimos estão exacerbados. O dono da fábrica quer que a máquina funcione logo (prejuízo a vista), o responsável pela manutenção está preocupado em não ser responsabilizado pelo problema (cabeças vão rolar) e o cliente final quer saber se o prazo de entrega será cumprido (metas de venda a cumprir).

E no meio desse vendaval nós, engenheiros, temos que conectar nossos instrumentos de diagnóstico e descobrir, após cuidadosa análise, qual o origem do problema e qual a solução mais rápida, eficiente e, se possível, de menor custo para retornar o equipamento à condição normal de funcionamento.

Não podemos errar pois a máquina pode facilmente custar milhares ou milhões e um erro seria fatal (morte certa do paciente). Não digam que estou comparando a vida humana, que para mim não tem preço, com uma máquina. Apenas estou, como bom engenheiro, usando de uma analogia para chegar ao meu argumento.

Ao final, depois de horas (algumas vezes dias) de árduo trabalho, a máquina finalmente volta a operar normalmente. Todos felizes e acaba o stress. Vamos comemorar!! A máquina, também feliz, volta ao trabalho e o engenheiro se volta para o próximo paciente, quero dizer, cliente. Isso sem ter que dar nenhum atestado para a máquina se recuperar.

Não sou contra o atestado médico. Nem sou contra os médicos, já que sou um regular frequentador de seus consultórios (viva a vida - viva o envelhecimento). Sou contra e acho um absurdo o uso inadequado e indiscriminado de um instrumento que deveria ser usado com mais rigor e critério.

Assim como o diagnóstico inadequado, baseado em suposições e que geralmente conduz a erro e a uma nova consulta, o atestado médico deveria ser algo emitido com mais critério. Afinal ele carrega a assinatura de um profissional que lutou para chegar onde está, trabalha muitas horas por semana e, para todos os efeitos, atesta tanto que o paciente está doente quanto que o médico diz que isso é verdade.

É comum (já aconteceu comigo e já ouvi vários relatos parecidos) encontrar pessoas que estão sob atestado médico se divertindo em passeios, baladas, festas e barzinhos. Engraçado como a pessoa tem disposição para passear mas não pode ir trabalhar. Como já disse antes, eu já fui testemunha e posso afirmar que é uma situação mais comum do que se imagina. E a pessoa acha que está levando vantagem, afinal ganhou alguns dias de folga remunerada e a Lei de Gerson infelizmente ainda não foi revogada.

Já experimentei problemas de saúde sérios e sei que a recuperação é um passo importante no processo de cura. Mas já voltei ao trabalho dois dias depois de uma operação bem sucedida em que não havia mais dor. Lógicamente que perguntei ao meu médico se haveria algum problema em voltar a trabalhar tão cedo. A resposta dele foi: "Se você está bem é ótimo que queira voltar ao trabalho. Trabalhar não mata e ajuda a recobrar o ânimo."

Neste momento de crise mundial, em que os empregos estão por um fio, seria interessante que as pessoas reavaliassem esta postura e quem sabe, aos poucos, vamos mudando o comportamento. É lógico que essa atitude tem que ser compartilhada pelos médicos também. Afinal, será que eles são tão generosos em conceder 5, 7 ou 10 dias de atestado para seus próprios funcionários por causa de uma dor de cabeça?

Atestado somente para quem realmente precisa!

Um comentário:

Fábio disse...

Fala Pontes!!! Muito bacana seu blog. Continue publicando seus textos que estão muito bem escritos.

O atestado médico realmente está sem critério.

Um grande abraço,

Fábio